sexta-feira, 11 de julho de 2008

Todas as prendas que me deste, um dia,Guardei-as, meu encanto, quase a medo,E quando a noite espreita o pôr-do-sol,Eu vou falar com elas em segredo ...
E falo-lhes d'amores e de ilusões,Choro e rio com elas, mansamente...Pouco a pouco o perfume do outroraFlutua em volta delas, docemente ...
Pelo copinho de cristal e prataBebo uma saudade estranha e vaga,Uma saudade imensa e infinitaQue, triste, me deslumbra e m'embriaga
O espelho de prata cinzelada,A doce oferta que eu amava tanto,Que reflectia outrora tantos risos,E agora reflecte apenas pranto,
E o colar de pedras preciosas,De lágrimas e estrelas constelado,Resumem em seus brilhos o que tenhoDe vago e de feliz no meu passado...
Mas de todas as prendas, a mais rara,Aquela que mals fala à fantasia,São as folhas daquela rosa brancaQue a meus pés desfolhaste, aquele dia...
Florbela Espanca

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