sexta-feira, 11 de julho de 2008

Noite de saudade
Florbela Espanca
A Noite vem poisando devagarSobre a Terra, que inunda de amargura...E nem sequer a bênção do luar A quis tornar divinamente pura... Ninguém vem atrás dela a acompanhar A sua dor que é cheia de tortura... E eu oiço a Noite imensa soluçar! E eu oiço soluçar a Noite escura! Por que és assim tão escura, assim tão triste?! É que, talvez, ó Noite, em ti existe Uma Saudade igual à que eu contenho! Saudade que eu sei donde me vem... Talvez de ti, ó Noite!... Ou de ninguém!... Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho!!
Todas as prendas que me deste, um dia,Guardei-as, meu encanto, quase a medo,E quando a noite espreita o pôr-do-sol,Eu vou falar com elas em segredo ...
E falo-lhes d'amores e de ilusões,Choro e rio com elas, mansamente...Pouco a pouco o perfume do outroraFlutua em volta delas, docemente ...
Pelo copinho de cristal e prataBebo uma saudade estranha e vaga,Uma saudade imensa e infinitaQue, triste, me deslumbra e m'embriaga
O espelho de prata cinzelada,A doce oferta que eu amava tanto,Que reflectia outrora tantos risos,E agora reflecte apenas pranto,
E o colar de pedras preciosas,De lágrimas e estrelas constelado,Resumem em seus brilhos o que tenhoDe vago e de feliz no meu passado...
Mas de todas as prendas, a mais rara,Aquela que mals fala à fantasia,São as folhas daquela rosa brancaQue a meus pés desfolhaste, aquele dia...
Florbela Espanca
A Estação Primeira de Mangueira, fundada em 28 de abril de 1928 pelos amigos Saturnino Gonçalves, Cartola, Carlos Cachaça, Marcelinho José Claudino (Maçu), Abelardo da Bolinha, Euclides Roberto dos Santos (Seu Euclides), Pedro Caim e Zé Espinguela, comemora seu aniversário de 80 anos.

O Sol Nascerá

Composição: Cartola / Elton Menezes

A sorrirEu pretendo levar a vidaPois chorandoEu vi a mocidadePerdidaFim da tempestadeO sol nasceráFim desta saudadeHei de ter outro alguém apara amarA sorrirEu pretendo levar a vidaPois chorandoEu vi a mocidadePerdida

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Das Águas do Velho Chico, Nasce Um Rio de Esperança (2006)

Vou navegar...
Na minha Estação Primeira
Nas águas da “integração” chegou Mangueira
Opará... Rio-Mar o nativo batizou
Quem chamou de São Francisco foi o navegador
Na serra ele nasce pequenino
Ilumina o destino, vai cumprir sua missão
Se expande pra mostrar sua grandeza
Gigante pela própria natureza

A carranca na Mangueira vai passar
Minha bandeira tem que respeitar
Ninguém desbanca minha embarcação
Porque o samba é minha oração

Beleza o bailar da piracema
Cachoeiras um poema à preservação
Lendas ilustrando a história
Memórias do valente Lampião
Mercado flutuante, um constante vai-e-vem
Violeiro, sanfoneiro, que saudade do meu bem
O sabor desse tempero, eu quero provar
Graças à irrigação, o chão virou pomar
E tem frutas de primeira pra saborear
Um brinde à exportação, um vinho pra comemorar
O Velho Chico! É pra se orgulhar

O sertanejo sonhou
Banhou de fé o coração
E transbordou em verde e rosa
A esperança do sertão

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As flores
de um jardim
guerreiam
entre si

Nesta guerra
entre flores rivais
pela posse do trono
da flor mais bela de elas

De um lado
as orquideas
do outro as rosas

De todo o lado
desse jardim
soam insultos
entre as partes
que se destroiem

Pétalas destruidas
muitas morrem
nesta guerra
e no fim
desse belo jardim
nada mais resta
que flores destruidas

sábado, 5 de julho de 2008